Já fiz de tudo na vida (ou quase tudo). Acampamentos selvagens, vários dias de caminhadas na Chapada, picadas de cobras, aventuras num barco minúsculo pelo Pantanal para ver jacarés. Sem contar com viagens lá fora. Escaladas em vulcões (adormecidos ou não), travessias em desertos, pulgões em Londres, sessões terapêuticas, Ioga na Índia, caminhadas para Machu Pichu e por aí vai.
Já vi de tudo também. Gente sendo assassinada na minha frente, gente morrendo de fome, gente pedindo esmola, gente rica jogando garrafinha pet pela janela do carro de oitenta mil reais. Gente morrendo de sede, criança cheirando cola (em plena luz do dia!), malucos fazendo ultrapassagens perigosíssimas, olha lá aquele idiota! Pra onde ele vai com tanta pressa? Será que pegou a mulher com o melhor amigo?
Já corri na praia pelada, já fiz nudismo onde não devia (e fui presa por isso); já dei gorjeta pro policial que me parou na estrada, já molhei a mão de fiscais, já tive vinte e oito cachorros. Vi cenas bizarras, já transei com garotos de programa, com namorados de amigas e até putas, só pra sentir o prazer que os homens têm em possuir uma mulher. Aliás, foi por causa de uma aventura dessas que acabei largando meu melhor amigo e amante, marido e namorado, meu homem apaixonado. Troquei uma vida de quase vinte e dois anos com esse homem, por uma mulher que transamos apenas uma vez. Uma mulher maravilhosa, com quem vivi até pouco tempo atrás.
Vivemos mil histórias. A família levou um choque ao saber que havia me apaixonado por outra. Imaginem, minha filha virou lésbica! Mas não teve jeito, tiveram que se acostumar com a idéia, pois só ela eu enxergava na frente. Andava de mãos dadas e a beijava sem vergonha pelas ruas dessa cidade preconceituosa. E aquele que foi meu companheiro por quase vinte e dois anos, continuou sendo meu amigo. Ficou meio ressabiado com minha atitude, mas percebeu que nossas aventuras estavam ficando um pouco mais do que absurdas, mesmo após a chegada do terceiro filho. Fomos até nosso limite, um prazer sem-limites que um dia culminou com o inesperado. Ou não.
Infelizmente, após catorze anos de relacionamento cheios de aventuras e sexo com limites (imaginem se ela se apaixonasse por outra?), minha amada mulher foi embora, vítima de um câncer nos seios. Quando descobrimos já estava em metástase. Um câncer tão agressivo que a levou em menos de três meses.
Apesar da tristeza em perdê-la, meu melhor amigo, amante e namorado nunca me abandonou. Hoje, aos 62 anos, comemoro feliz meu aniversário com aquele que nunca deixei de amar, mesmo com as indas-e-vindas dessa vida louca e desse meu lado gay.
quinta-feira, 8 de março de 2007
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