terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Meus dezoito e poucos anos

Segunda-feira, um dia qualquer de janeiro.
Depois de um sonho, do qual não queria de jeito nenhum acordar, posso dizer que tive um dia bem pensativo. Passo agora por um momento de reflexão de minha vida, não porque me sinto deprê, mas porque encontro-me completamente sozinha do outro lado do mundo. E são nesses momentos que os fantasmas aparecem sem que você queira. Eles simplesmente aparecem.

Voltei aos meus vinte anos, quando ainda era apaixonada por um jovem da mesma idade e que me fez sofrer feito idiota. Aliás, nessa idade quando a gente se apaixona, a gente vira idiota, não tem jeito. Você não tem a inteligência de uma mulher de quase quarenta pra mandar o namoradinho praquele lugar quando ele insinua que você está tendo um caso com o melhor amigo dele que, na verdade, era um gato, mas fazer o que, você estava tão apaixonada por aquele moleque que nem o amigo-gato dele fazia você virar o rosto pro lado.

As lembranças vêm e vão, você se lembra daquele tempo quando você trabalhava sem preocupações de pagar contas, apenas a faculdade e suas baladas, que eram várias, porém, em apenas dois lugares: Rose Bombom e Nation. Vem aquela lembrança de quando você saía todas as quintas-feiras com o carro emprestado do pai se borrando toda, porque ainda não tinha carteira de motorista. Vem a lembrança dos meninos que você ficava, das maluquices que você fazia pra se livrar de um, porque tinha outro mais interessante na jogada, dos números errados de telefone, das danças sedutoras com os futuros-ex-desconhecidos. Daquele com cara de índio que te deixava nervosa, daquele gay que você era louca pra dar mais um beijo e daquela música, como era mesmo... “I just want to see your face”... Section 25! E “Penny Century”, meu deus, essa música era tudo! Todo mundo curtia e eu ainda gravei o disco do Cassandra Complex de um amigo meu, disco de vinil gravado em uma fita cassete. Penny, Penny Century, I love you, I love you...

Que época boa, que delícia de época. Depois veio o Hoellishc, lá na Praça Roosevelt, o orgasmo da descoberta do underground para mim. Numa das vezes em que fui, dei de cara com o Whayne do The Mission. Ou ele ainda era do Sister’s of Mercy? Quase tive um colapso, mas nada fiz, só me achei a mais poderosa de todas naquele momento. Ele olhou pra mim, deu um sorriso e continuou seu caminho. Meu coração disparou, como naquele dia em que neguei de pé junto que não tinha ficado com o Ivan quando um namoradinho lindo e maravilhoso de olhos claros ficou sabendo. Que cara de pau. Quem te contou? O cara era tão lindo que na hora, saquei que a garota queria mesmo era destruir o nosso relacionamento. Mas no final e claro, por causa dessa discussão, eu mesma destruí. O cara era muito narciso, não dava pra agüentar. Quantos anos eu tinha... Uns dezoito, dezenove.
Me achava o máximo por namorar um cara lindo como aquele, a mulherada morria de inveja e isso aumentava mais ainda o meu ego, mas enfim, mesmo com a pouca idade, percebi que beleza não significava nada além de um belo desfile. Eu mesma queria conversar e falar da vida, enquanto o bonitão só queria se olhar no espelho. Não deu certo.

Saudades daquela sedução inocente e sem malícias, simplesmente saindo do shopping com minha melhor amiga e mais dois brotos, supostos “futuros” até que, o “meu futuro”, me ofereceu um Halls e eu aceitei. O detalhe foi que ele me ofereceu na boca entre os dentes e eu, sem pensar nas conseqüências, peguei. Com a minha boca, claro. Na hora ele me pediu em namoro, eu aceitei, fiquei nas nuvens, imagina, um cara lindo como aquele me pedindo em namoro! Mas como disse, acabei destruindo o relacionamento no final devido ao super-ego-narcisista.

Hoje, quando ouço The Klinik, Joy Division e Split Second me dá uma nostalgia... Há um tempinho, o (esqueci o nome dele) tentou reabrir o Rose Bombom no seu mais alto estilo lá na galeria Ouro Fino e vou falar, foi maravilhoso. Pena que durou poucos meses. Me senti na mesma época quando o Rose ficava na Haddock com Oscar Freire, ainda mais porque reencontrei pessoas da época, inclusive um cara que eu era apaixonadíssima quando tinha meus quinze anos. Pois é, esse rosto, atualmente gordo e envelhecido, abalou muito meu coraçãozinho desde a adolescência nas matinês da Up & Down, depois nas noites do Área, Nation e Rose, antes de ser fechado em 89 ou 90. Ainda bem que deu pra comemorar meus 18 anos lá. Pena que o Rose, depois que mudou pro burburinho de Pinheiros, mudou completamente. Que saudades do clima underground de antes.

Mas que horror, quanta nostalgia! Desculpem, o que um sonho não faz com uma pessoa quando ela está sozinha. Pena que esses momentos não voltam mais... E se eles voltassem, eu faria tudo de novo. Faria um pouco mais até, só pra chegar naquele exato dia em que juntei todos os meus diários e coloquei no lixo por causa de um ciúmes doentio de um namorado... Se existe arrependimento de alguma coisa, esse foi e ainda é o maior de todos. Adoraria voltar o tempo e não ter tido essa estúpida atitude. Pelo menos agora eu estaria lendo um por um e dando risada de tudo o que vivi, sem ressentimentos. Que burra, não?

E você? Do que você se arrepende de ter feito quando tinha seus dezoito ou dezenove anos?

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